O mestre Javier Salvador Gamarra foi um dos alunos da turma de 1973 da Associação Paulista de Homeopatia, sob a orientação do renomado Dr. Francisco Xavier Eizayaga, da Argentina. Dessa turma, originou-se um grupo de médicos homeopatas brasileiros de destaque, que desempenharam um papel fundamental no ressurgimento da homeopatia no país, especialmente sua institucionalização nas décadas de 1970 e 1980. Desde sua formação com um dos grandes mestres argentinos e globais, Dr. Gamarra destacou-se crescentemente na área da homeopatia, enfrentando as resistências iniciais de um modelo de saúde amplamente questionado pela medicina tradicional.
A homeopatia para ele não era apenas uma prática médica, mas uma doutrina e uma missão, algo que ele carregou consigo até seus últimos dias. Suas participações ativas em congressos, encontros, simpósios e debates foram marcadas pela defesa da visão integral do ser humano em sofrimento, alinhada ao unicismo preconizado por Samuel Hahnemann, o criador da homeopatia.
Em 1976, junto a outros médicos pioneiros do Paraná, Dr. Gamarra fundou a Associação Médica Homeopática do Paraná (AMHPR), que inicialmente oferecia cursos de formação para médicos. Em 1979, trouxe da Argentina o farmacêutico Arturo Méndez, um dos maiores farmacêuticos homeopatas da época, e juntos lançaram o primeiro curso de homeopatia para farmacêuticos no Brasil. A vinda de Méndez contribuiu para introduzir o Método do Fluxo Contínuo, do qual Dr. Gamarra foi um dos principais prescritores no Brasil, e para ampliar o conhecimento e o uso da cinquenta-milesimal hahnemanniana, até então pouco difundida no país.
Nos anos subsequentes, Dr. Gamarra desempenhou um papel crucial na formação de médicos veterinários e odontólogos homeopatas, abrindo caminho para essas profissões dentro do contexto homeopático brasileiro. Além de seu envolvimento ativo no Paraná e sul do Brasil, ele expandiu sua influência no cenário nacional, mantendo contato constante com os principais homeopatas e entusiastas dessa abordagem na época.
Esse envolvimento resultou em sua participação no grupo que promoveu a politização da inserção da Homeopatia como Especialidade Médica, na segunda metade da década de 1970, culminando no reconhecimento pela Associação Médica Brasileira (AMB), e posteriormente pelo Conselho Federal de Medicina. Nesse período, Dr. Gamarra foi o primeiro presidente e um dos fundadores da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), a principal entidade homeopática do Brasil desde então. Também ocupou a posição de vice-presidente para o Brasil na Liga Médica Homeopática Internacional (LMHI), contribuindo para ampliar a presença internacional da homeopatia brasileira.
Em 1994-1995, desenvolveu a Escala SD, a primeira escala de dinamização homeopática desde as inovações técnicas do Fluxo Contínuo no final do século XIX. Apesar de ter gerado polêmica na homeopatia brasileira, essa escala estimulou debates sobre inovação e pesquisa em homeopatia no país, sendo atualmente usada em várias partes do Brasil como parte das prescrições magistrais.
O legado do Dr. Gamarra para a homeopatia brasileira é notável. Suas contribuições foram cruciais para o ensino e a institucionalização da homeopatia no Brasil, abrindo caminho para diversas áreas, desde a medicina até a farmácia, medicina veterinária e odontologia. Ele também foi pioneiro na introdução de novos métodos e práticas na homeopatia brasileira, como o Método do Fluxo Contínuo e a Escala SD. Seu compromisso em tornar a homeopatia mais acessível e seu papel na formação de profissionais em todo o país e além das fronteiras do Brasil são evidências de uma vida dedicada à homeopatia, que moldou positivamente o cenário atual da homeopatia no Brasil, tornando-a mais robusta, dinâmica, acolhedora e humanizada.